quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O Livro da Ordem de Cavalaria - Fragmento I


O Livro da Ordem de Cavalaria é uma obra de Ramon Llull, em que ele apresenta um ideal de sociedade baseado numa concepção de vida heroica e ao mesmo tempo religiosa.
Sua obra trás o conflito entre a virtuosidade e honradez dos Cavaleiros, e a corruptibilidade do caráter dos mesmos.

Traremos para os leitores do Blog três fragmentos do livro para conhecimento e reflexão acerca das Ordens de Cavalaria medieval. Porém, recomendamos a compra do livro, que pode ser feita no site da Livraria Cultura ou no Submarino.

Fragmento I

Do Começo da Cavalaria

1
     Faltou caridade, lealdade, justiça e verdade no mundo; começou inimizade, deslealdade, injúria, falsidade; e por isso surgiu erro e turvamento no povo de Deus, que foi criado para que Deus fosse amado, conhecido, honrado, servido e temido pelo homem.
2
    No começo como veio ao mundo menosprezo de justiça devido à míngua de caridade conveio que pelo temor a justiça retornasse à sua honra. E por isso, de todo o povo foram divididos em grupos de mil e de cada mil foi eleito e escolhido um homem, mais amável, mais sábio, mais leal e mais forte, e com mais nobre coragem, com mais ensinamentos e de bons modos que todos os outros.

3
   Buscou-se em todas as bestas qual era a mais bela besta e a mais veloz, e a que pudesse sustentar maior trabalho, e qual era a mais conveniente para servir ao homem; e por quê o cavalo é a mais nobre besta e a mais conveniente em servir ao homem, por isso, de todas as bestas, o homem elegeu o cavalo, que foi doado ao homem que foi dos mil homens eleito. E por isso aquele homem tem o nome de Cavaleiro .

   Ajustada a mais nobre besta, ao mais nobre homem, seguidamente conveio que o homem elegesse e escolhesse de todas as armas, aquelas armas que são mais nobres e mais convenientes para o combate e para defender o homem das feridas e da morte, e aquelas armas que o homem doou e apropriou ao cavaleiro.

5
  Quem quer entrar na Ordem de Cavalaria, lhe convém meditar e pensar no nobre começo de cavalaria e convém que a nobreza de sua coragem e seus bons modos concordem e convenham com o começo da Cavalaria, pois , se assim não o faz, contrário seria à Ordem de Cavalaria e a seus princípios. E por isso, não convém que a Ordem de Cavalaria receba seus inimigos em suas honras nem aqueles que são contrários aos seus princípios.

8
  Guarda, Escudeiro, que farás se abraçares a Ordem de Cavalaria; por que se és cavaleiro tu recebes a honra e a servidão que convém aos amigos de cavalaria. Por que quanto mais nobres princípios tens, mais obrigado a ser bom e agradar a Deus e às gentes estás; e se és vil tu serás o maior inimigo de cavalaria, e mais contrário aos seus princípios e sua honra.
9
  Tão alta e nobre é a Ordem do Cavaleiro que não bastou à Ordem que se fizesse com as mais nobres pessoas, nem que se lhes doasse as bestas mais nobres nem lhe desse as mais honradas armas antes conveio ao homem que se fizessem senhores das gentes aqueles homens que são da Ordem de Cavalaria. E por que no senhorio há tanto de nobreza, e na servidão tanto de submissão, se tu, que abraças a Ordem de Cavalaria, fores vil e malvado, poderás pensar qual injúria fazes a todos os teus submetidos e a todos teus companheiros que são bons, por que pela vileza em que estás, deverias ser submetido e pela nobreza dos cavaleiros que são bons és indigno de ser chamado Cavaleiro.

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